Certamente você já viu o caso de alguém que seguia um treinamento contínuo de academia, parou por um tempo e, quando retornou, recuperou facilmente os músculos e a força perdida. Esse fenômeno é comumente conhecido como memória muscular, ou seja, o corpo do atleta consegue recuperar o que foi perdido depois de um período de pausa nos treinos.
Neste artigo eu vou te explicar o que é a memória muscular, como o seu corpo age nesse período de recuperação e também abordar algumas dúvidas comuns de quem treina.
Definição de Memória Muscular
Como o próprio nome já sugere, é fácil associar o termo memória muscular a algum tipo de ”recall” que o seu corpo faz com relação à composição física. Mas é isso mesmo?
Antes de abordar a memória muscular conhecida no âmbito do treinamento físico de força, precisamos entender que existem duas definições distintas: uma da área científica e outra da área de condicionamento físico, esta segunda que vamos abordar com mais detalhes a seguir.
Para os cientistas
A utilização “mais correta” do termo, por assim dizer, é a adotada pela área científica, onde a memória muscular está diretamente ligada ao aspecto motor.
Nesse caso, é associado à capacidade do nosso corpo de recordar movimentos, gestos e combinações praticadas com frequência em um período anterior.
Parece complexo entender isso, não é? Mas vamos aos exemplos:
- Você já deve ter ouvido o ditado popular ”é como andar de bicicleta, a gente nunca esquece”;
- Você já se perguntou: ”como os jogadores de futebol conseguem lançar a bola de um lado a outro do campo inúmeras vezes e sempre (ou quase sempre) acertar o companheiro?
- Ou ainda, jogadores de basquete que são capazes de arremessar a bola e saber a força exata que precisa ser empregada para acertar a cesta.
Nos exemplos acima, o sistema motor reproduziu o movimento repetidas vezes, fazendo com que fosse fácil recordar, mesmo que depois de muito tempo sem executá-lo, como é o caso da bicicleta.
Nos dois últimos exemplos, pode-se perceber a memória muscular quando acompanhamos ex-jogadores, depois de um tempo longe das quadras ou gramados, que fazem jogos amistosos e parecem ainda ter o ”jeito”. Estas também são aplicações científicas do termo memória muscular.
Para os profissionais e atletas do condicionamento físico
Já nesta área, atribui-se o termo para a capacidade do corpo de retomar rapidamente suas proporções de força e músculos após períodos sem exercícios.
Para facilitar, também vamos a um exemplo:
Um atleta que pratica atividades físicas de academia regularmente, tem o seu ganho de massa muscular e de força, algo normal. Vamos supor que uma rotina regrada de treinamento se manteve por anos.
Porém, devido a contratempos pessoais, como a Pandemia do Coronavírus, o atleta precisou ficar alguns meses afastado dos treinamentos, o que ocasionou a perda de parte do seu vigor físico e, consequentemente, parte da sua força.
Depois de alguns meses afastado, o atleta retoma as atividades normais, de forma constante e regrada, como fazia antes. Nesta segunda etapa, percebe-se uma recuperação muito mais rápida, readquirindo seus músculos e sua força em poucos meses, quiçá algumas semanas.
Esse é o efeito da memória muscular, segundo os profissionais e atletas do condicionamento físico. Como citado anteriormente, abordarei a utilização do termo do ponto de vista de condicionamento físico. Mas vamos ao que interessa.
Como ela funciona?
As células do nosso corpo possuem estruturas chamadas de mionúcleos. Essas estruturas são responsáveis pelo transporte de DNA e pela gestão da construção de novas proteínas musculares. Podemos dizer que estes mionúcleos são uma espécie de ”cérebro” na célula, mas, que atingem um limite à medida que a célula cresce, uma vez que para o corpo é melhor manter-se em homeostase.
Como as células musculares possuem vários destes mionúcleos, elas possuem uma capacidade de crescimento consideravelmente maior do que as outras presentes no corpo humano.
Junto às células musculares, temos estruturas adjacentes que podemos chamar de células satélites. Estas trabalham no fornecimento de mionúcleos para a célula principal com o objetivo de curar danos causados às fibras musculares, já que as células musculares não produzem estes ”cérebros” por si só.
Tendo entendido este trabalho das células musculares, vamos imaginar o treinamento de um atleta na academia. Ele faz o seu treino e constantemente força o seu corpo a carregar cargas mais pesadas e com repetições regulares. Este exercício faz com que as fibras musculares sejam danificadas, ativando as células satélites, que fornecem mionúcleos para as células musculares, fazendo com que o atleta tenha um ganho de fibra muscular, ou melhor, hipertrofia.
Com esse processo em ação constante, o atleta percebe o crescimento corporal, aumento de força e uma definição estética progressiva.
E onde a memória muscular entra?
Agora chegamos onde queríamos. Caso este mesmo atleta pare de fazer as suas atividades físicas por um tempo, ele terá uma perca de musculatura, porém, os mionúcleos continuarão presentes na célula, possibilitando um crescimento acelerado quando o atleta retorna aos treinos.
Todo o trabalho que as células tiveram para adquirir novos mionúcleos não foi perdido, agora os esforços são empregados com mais eficiência e o ganho de massa muscular e força acontece de forma muito mais rápida.
Isso é a memória muscular!
Dicas Para Acelerar Os ”Ganhos”
- O fundamental para ganho de massa muscular é superávit calórico. Portanto, ajuste sua alimentação para as diretrizes nutricionais de massa magra. Elas são atendidas com uma adição de 200-300 calorias a taxa calórica de manutenção diária. Veja como ajustar sua alimentação de modo eficaz nestas matérias: para homens e para mulheres.
- Treine normalmente, sem afobação com técnicas metabólicas com intuito da recuperação dos músculos. Mantenha uma rotina progressiva e constante.
- Fique calmo! Com tempo sua massa magra retornará, ou seja, motive-se a cada dia (treino), para que você dê sempre o seu melhor.
Exemplos de Recuperação de Tecidos Musculares
Fontes
- Muscle memory and a new cellular model for muscle atrophy and hypertrophy. Kristian Gundersen. Journal of Experimental Biology 2016 219: 235-242; doi: 10.1242/jeb.12449
- Seaborne, R. A., Strauss, J., Cocks, M., Shepherd, S., O’Brien, T. D., van Someren, K. A., Bell, P. G., Murgatroyd, C., Morton, J. P., Stewart, C. E., & Sharples, A. P. (2018). Human Skeletal Muscle Possesses an Epigenetic Memory of Hypertrophy. Scientific reports, 8(1), 1898. https://doi.org/10.1038/s41598-018-20287-3
- Study proves ‘muscle memory’ exists at a DNA level
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