Aziz Shavershian, o icônico Zyzz, foi mais do que um corpo sarado no Instagram. Para muitos jovens, ele representava liberdade, superação e um novo ideal estético no universo do fisiculturismo. Carismático, irreverente e extremamente dedicado à imagem que construiu, Zyzz virou símbolo de uma era. Contudo, sua morte precoce, em 2011, levantou não somente comoção — levantou questões que ecoam até hoje.
Um fenômeno chamado Zyzz
Nascido em 1989, na Austrália, e descendente de russos, Zyzz começou como um garoto magro, tímido e inseguro. Sofreu bullying no colégio, evitava tirar a camisa em público e se considerava invisível. Tudo mudou quando conheceu a musculação. Em poucos anos, transformou o físico e se reinventou nas redes sociais.
Sem nunca competir profissionalmente, ele conquistou fãs com vídeos motivacionais, frases marcantes e uma personalidade que transitava entre o humor e a provocação. O fórum Misc, no Bodybuilding.com, foi um dos palcos onde sua persona digital se solidificou.
A célebre frase “we’re all gonna make it, brah” virou lema entre jovens que sonhavam com um corpo estético, confiante e desejado.
O chamado “Zyzz lifestyle” misturava treino pesado, foco no shape seco, festas, selfies no espelho e uma vida aparentemente sem preocupações. Era o símbolo do “do zero ao herói” que muitos queriam imitar.
A morte que ninguém esperava

Em 5 de agosto de 2011, Zyzz sofreu uma parada cardíaca dentro de uma sauna em Bangkok, na Tailândia. Tinha apenas 22 anos. O relatório médico apontou uma cardiomiopatia congênita não diagnosticada como causa oficial.
Segundo especialistas, essa condição — uma alteração estrutural do músculo cardíaco — pode passar despercebida por anos e levar à morte súbita, principalmente quando combinada com fatores como calor extremo e desidratação.
No entanto, o caso de Zyzz ganhou outras camadas com o tempo… Amigos próximos relataram o uso de esteroides anabolizantes. Embora não haja provas de que isso tenha sido determinante, os efeitos cardiovasculares dessas substâncias são amplamente documentados.
Um estudo conduzido por Paul Thompson e colaboradores analisou os efeitos do uso de esteroides anabolizantes sobre a saúde cardiovascular, concluindo que usuários crônicos podem desenvolver hipertrofia ventricular esquerda, alterações no colesterol e riscos aumentados de arritmias e infartos [1].
Zyzz também fazia uso de termogênicos e estimulantes como a efedrina, conhecida por acelerar o metabolismo, mas também a frequência cardíaca. A literatura médica aponta que o uso combinado de esteroides e estimulantes potencializa os riscos cardíacos. Um estudo conduzido por Russell Melchert e Aaron Welder descreveu que o uso associado dessas substâncias compromete severamente a função cardíaca e aumenta o risco de eventos fatais [2].
O que diz a ciência
Estudos recentes reforçam o perigo de práticas comuns no meio estético. Uma pesquisa realizada por Andrew Maiorana e colaboradores concluiu que o uso prolongado de anabolizantes provoca rigidez arterial, disfunção miocárdica e aumenta o risco de morte súbita [3].
Além disso, uma revisão liderada por Thomas Gunnarsson e colaboradores destacou a correlação entre mortes súbitas de jovens usuários de AAS e alterações cardíacas severas [4].
A ciência é clara: predisposição genética, somada ao uso indevido de substâncias e hábitos extremos, pode ser fatal. No caso de Zyzz, esse cenário se desenhou em silêncio até o momento em que foi tarde demais.
Um legado que inspira e alerta
Mais de uma década após sua morte, Zyzz ainda é celebrado como um símbolo. Sua imagem estampada em camisetas, murais e montagens nas redes sociais continua motivando jovens a treinarem, a buscarem autoestima e a acreditarem na própria transformação.
Sua história também serve como alerta. A busca cega por estética, sem acompanhamento profissional, pode custar caro. Substâncias como anabolizantes exigem responsabilidade e conhecimento. A ilusão do corpo perfeito imediato pode esconder riscos silenciosos.
Como o próprio Zyzz dizia: “You can be whatever you want, as long as you’re willing to work for it”.
Que essa frase siga inspirando, mas que a jornada seja feita com saúde, informação e responsabilidade.
Fontes consultadas:
- THOMPSON, Paul D. et al. Anabolic steroid use and abuse: a review of the evidence and its implications. Journal of the American College of Cardiology, v. 72, n. 2, p. 123-132, 2019.
- MELCHERT, Russell B.; WELDER, Aaron A. Cardiovascular effects of androgenic-anabolic steroids. Medicine and Science in Sports and Exercise, v. 27, n. 9, p. 1252-1262, 1995.
- MAIORANA, Andrew J. et al. Long-term anabolic steroid use is associated with myocardial dysfunction and increased arterial stiffness. Circulation: Heart Failure, v. 14, n. 3, e006651, 2021.
- GUNNARSSON, Thomas P. et al. Use of anabolic androgenic steroids and cardiac death: case reports and literature review. Forensic Science International, v. 313, 110343, 2020.
- FAZEMANIA. The Legend of Zyzz – The Legacy Lives On. [S.l.]: YouTube, 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VgvM7av1o1Q. Acesso em: 19 abr. 2025.